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quarta-feira, 21 de abril de 2010

3ª postagem

Nesta semana fui criticada ao falar que os alunos trabalharam os símbolos da páscoa com a professora titular, isso aconteceu uma semana antes que eu iniciasse o estágio: “Símbolo de Páscoa para pessoas adultas???????????????”. Percebi a preocupação da crítica e tenho tomado cuidado para não infantilizar as aulas. No entanto, na semana seguinte, quando comecei a freqüentar as aulas um aluno, que não sabia a diferença das letras, me disse que já conhecia três letras, o “O” de ovo, o “P” de páscoa e o “C” de coelho. Ao ouvir o relato fiquei comovida, pois, até então, ele não conhecia nenhuma letra.

Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido relata que devemos usar uma metodologia pautada no universo do educando “o pensar dos homens referido à realidade, seu atuar, sua práxis”, ou seja, naquele momento a mídia, seus filhos, todos comentando sobre o evento “Páscoa”, falando sobre o significado, foi então que a professora começou a mostrar-lhes cada palavra referente ao símbolo, já que era o assunto do momento.

Ainda citando Paulo Freire “A educação como prática de liberdade, ao contrário daquela que é prática de dominação, implica na negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado no mundo, assim também na negação do mundo como uma realidade ausente nos homens.” (Paulo Freire, Educação como prática da liberdade). Se for para trabalhar com palavras referentes ao seu dia-a-dia, porque não a Páscoa? Claro que devemos colocar o problema do consumismo que ocorre nestas datas comemorativas, claro que foi falado e dialogado, cada um colocou seu ponto de vista sobre o que é consumismo, mais como futura pedagoga não vejo mal algum em orienta-los a escrever qualquer palavra que seja que esteja inserido em seu contexto social e a Páscoa faz parte neste contexto, assim como a semana do Kerb que estamos comemorando neste exato momento e nesta semana trabalhamos sobre a sua origem, os alimentos típicos da colonização alemã, as festas, enfim, são itens que fazem parte da vida destes alunos.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

2ª postagem

Trabalhar alfabetizando adultos não é tarefa fácil, não posso comparar com alfabetização de crianças, mais ao mesmo tempo em que não é fácil também é gratificante.

Difícil, pois eles vêm já com uma bagagem grande de rejeições de uma vida, do preconceito vivido, das negações que a sociedade lhes impuseram por não saber ler e escrever e tudo isso gera uma ansiedade por aprender o mais breve possível, a dominar a arte de ler e escrever e mais do que isso, passar a ver o mundo com outros olhos, Fernando Pessoa diz que “não basta não ser cego pra ver as árvores e as cores, há pessoas que têm vistas excelentes e não percebem nada. É preciso ensinar os nossos alunos a enxergar o mundo.”

Durante estes vinte anos que leciono nunca tive tanta certeza do que disse Rubem Alves que ser professor é profissão, ser educador é vocação. Sempre tive certeza que tenho vocação, mais não para alfabetizar, mais para transmitir conhecimento, passar informações, fazer questionamentos e faze-los pensar, raciocinar para não aceitar tudo o que ouvem, para questionar, sempre se baseando em fatos.

domingo, 11 de abril de 2010

1º postagem

Minha primeira reação ao saber que faria estágio com uma turma de alfabetização da E.J.A. foi sair correndo da escola, o que de fato ocorreu.

Percebendo que não haveria outra forma de estagiar, voltei conversei com a orientadora da escola, também conversei com a professora Jaqueline e menos nervosa dessas conversas.

Comecei a ler e reler textos sobre alfabetização de adultos quando, no texto de Giroux ele chama a alfabetização de “problema” e, de fato a alfabetização de adultos é mais do que um problema da alfabetização em si é um problema cultural, político e social, afinal de contas, um adulto que não sabe diferenciar uma letra da outra e ao vê-las não passa de um desenho, este adulto é cego diante de uma sociedade letrada, em que tudo gira em torno da leitura e da escrita.

Uma semana antes de iniciar o estágio, comecei, com licença da orientadora e da professora titular, a freqüentar as aulas para melhor conhecer os alunos, a percepção inicial é de que eles sentem necessidade de provar algo para alguém, que pode ser seus familiares, com discursos: “Vou provar a eles que eu consigo”. “Eles vão ver que sou capaz”. “Vou ler pra todos ouvirem”, enfim, como dizia Gramsci que as pessoas deveriam lutar pela educação e é essa a impressão que tive dessas pessoas, elas estão lutando por seu lugar na sociedade.

Referência:

Antonio Gramsci, citado por James Donald, "Language, Literacy, and Schooling", in The State and Popular Culture (Milton Keynes: Open University, U203 Popular Culture Unit, 1982), p. 44. Com referência às observações de Gramsci sobre a linguagem, ver Antonio Gramsci, The Modern Prince and Other Writings, trad. de Louis Marks (Nova York, New World Paperbacks, 1957), passim; Selections from the Prison Notebooks, org. Q. Hoare e G. Nowell Smith (Nova York, International Publishers, 1971); e Lettersfrom Prison (Londres, Jonathan Cape, 1975).

Para uma discussão crítica das teorias de reprodução e resistência, ver Henry A. Giroux, Theory and Resistance in Education; ver também J. C. Walker, "Romanticising Resistance, Romanticising Culture: Problems in Willis's Theory of Cultural Production", British Journal of Sociology of Education, 7: 1 (1986), pp. 59-80.